A biodiversidade das montanhas capixabas inspirou um projeto inovador de Iniciação Científica, liderado por Thiago Araujo Ramos, estudante de Agronomia no Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) – Campus Santa Teresa. Orientado pelos professores Eduardo Antonio Ferreira e Fabiano de Carvalho, o projeto também contou com a co-orientação do professor Rodrigo Borges de Araujo Gomes e a colaboração dos co-autores professor Marcus Vinicius Paixão e Taynara Pereira Angêlo, estudante de Agronomia. O estudo focou na avaliação de compostos fenólicos e polifenóis presentes na geoprópolis da Melipona capixaba, também conhecida como Uruçu-capixaba.
Por Que Estudar a Geoprópolis?
Confira:
A geoprópolis é um produto natural altamente valioso, formado a partir de resinas vegetais coletadas pelas abelhas, misturadas a secreções e cera. Rica em compostos bioativos como fenóis e polifenóis, ela apresenta grande potencial antioxidante, anti-inflamatório e antimicrobiano. Esses compostos ajudam a neutralizar radicais livres no organismo, sendo aliados na prevenção de doenças crônicas e na promoção da saúde.
A equipe coletou seis amostras de geoprópolis em diferentes localidades das montanhas capixabas, conhecidas pela riqueza de sua vegetação nativa. Utilizando o método de Folin-Ciocalteu, padrão em estudos de compostos naturais, as amostras foram analisadas por espectrofotometria UV-VIS para medir sua absorbância e concentração de compostos fenólicos.
Colônia de Uruçu-capixaba (Melipona capixaba)
Foto: Thiago Ramos
Geoprópolis na parte superior quase fechando uma colônia de Uruçu-capixaba (Melipona capixaba)
Foto: Leonardo Pereira
Coleta da geoprópolis produzida pela Melipona capixaba
Foto: Leonardo Pereira
Descobertas Importantes
O estudo revelou uma variação significativa na concentração de antioxidantes nas amostras analisadas. Segundo Thiago Araujo Ramos:
“Observamos que, em diferentes localidades, a quantidade de antioxidantes variou, provavelmente devido à composição das matas de onde as abelhas coletaram as resinas.”
Essa descoberta reforça o conceito de que a vegetação ao redor das colônias de abelhas uruçu-capixabas é determinante para a qualidade da geoprópolis. A flora nativa das montanhas do Espírito Santo desempenha um papel essencial na formação de seus compostos bioativos, tornando-se um elemento-chave para o potencial terapêutico e farmacológico desse valioso produto natural.
Um Hiperfoco Transformador
Para Thiago Ramos, a jornada na meliponicultura foi mais do que uma escolha acadêmica, foi uma paixão transformadora:
“Tenho TDAH e estou investigando autismo grau 1. A meliponicultura se tornou meu hiperfoco! Foi ela que me manteve no IFES, pois até então eu não tinha diagnóstico. Descobrir as abelhas sem ferrão foi amor à primeira vista.”
O primeiro contato de Thiago Ramos com as abelhas ocorreu quando viu o professor Eduardo Ferreira realizando revisões nas colônias. Movido pela curiosidade, pediu para participar voluntariamente:
“Comecei ajudando nas revisões e, a partir daí, me apaixonei pela prática. A meliponicultura não só me segurou no curso como também me trouxe um mestre que me ensinou muito mais do que técnicas. O professor Eduardo me ensinou a ser forte!”
Thiago Ramos ao lado do cartaz do estudo Científico realizado sobre a geoprópolis da Melipona capixaba
Além dos avanços científicos, a pesquisa de Thiago Ramos abriu novas portas para a inovação farmacêutica e nutricional. Ele destaca a importância de seguir explorando o potencial das abelhas nativas e seus produtos:
“Ainda há muito a se estudar sobre nossas abelhas nativas. Meu conselho para quem quer se aprofundar na meliponicultura é investir tempo e dedicação para aprender. Precisamos mostrar ao mundo que as abelhas sem ferrão são nossas abelhas e reconhecer sua importância como as principais polinizadoras.”
Um Futuro Promissor para a Ciência e a Sustentabilidade
A pesquisa abre portas para novos estudos farmacêuticos e nutricionais, reforçando a importância da preservação das abelhas nativas e dos biomas locais. A Melipona capixaba, espécie endêmica das montanhas capixabas, vai além de seu papel ecológico na biodiversidade, oferecendo um enorme potencial para o desenvolvimento de produtos naturais sustentáveis.
Esse estudo mostra que a conservação das abelhas nativas não é apenas uma questão ambiental, mas uma oportunidade para a inovação científica. Com mais investimentos em pesquisa e projetos de preservação, a geoprópolis da uruçu- capixaba pode se tornar uma referência em saúde natural e sustentabilidade econômica, incentivando o desenvolvimento regional e fortalecendo a meliponicultura no Espírito Santo.
A dedicação de Thiago Ramos e seus professores não só revela o potencial das abelhas nativas, mas também inspira outros estudantes a mergulharem no universo fascinante da meliponicultura, unindo ciência, natureza e paixão.
Ninho da colônia de Uruçu-capixaba (Melipona capixaba)