Para muitas mulheres, o primeiro contato com a meliponicultura acontece de maneira inesperada, mas rapidamente se transforma em uma paixão. Thiandra Cristina, do Meliponário Rainha do Sul, do Rio Grande do Sul, iniciou sua jornada após descobrir um ninho de Jataí em seu quintal. “Comecei a investigar o comportamento dessas abelhas e, a partir dessa curiosidade, fui me aprofundando no tema. Logo adquiri minhas primeiras colônias e percebi que havia um universo inteiro a ser descoberto dentro da meliponicultura.”


No entanto, nem tudo foi fácil no início. Thiandra Cristina relembra as dificuldades enfrentadas há 10 anos, quando a falta de informação era um grande obstáculo. “Não existiam muitos grupos de WhatsApp ou materiais acessíveis na mídia. Tive que aprender na prática, cometendo erros e ajustando o manejo com as abelhas. Felizmente, hoje a realidade é outra, há um vasto material disponível online, facilitando o aprendizado e o compartilhamento de conhecimentos entre meliponicultores.”
Já para Gleide Maria Aparecida, do Meliponário Nativas da Foz, em Regência, Linhares, no Espírito Santo, o que despertou sua paixão pelas abelhas foi um convite feito por uma amiga para participar de uma apresentação promovida por uma Associação de meliponicultura, em Regência, no final de 2015. “Nunca havia ouvido falar sobre abelhas sem ferrão. Nessa apresentação, tinham as colônias de abelhas, banners mostrando sobre elas. No primeiro momento já me encantei e quis ingressar na meliponicultura para poder contribuir com a polinização, com a natureza.”
Gleide Aparecida conta que no início teve muito apoio, tanto desse projeto quanto de outros meliponicultores, eles a ajudaram a tirar dúvidas e perder o medo de lidar com as abelhas.“No início da atividade, eu me encontrava num quadro profundo de depressão e as abelhas me ajudaram muito nesse momento. Comecei a me envolver na atividade, conversava com elas, desabafando meus problemas todos os dias.”
O impacto da meliponicultura em sua vida foi tão grande que, há dois anos, ela deixou o emprego como funcionária pública e passou a se dedicar exclusivamente às abelhas. “A meliponicultura passou a ser minha fonte de renda extra. Consigo vender o mel, a própolis, e também sabonetes, que faço há seis anos após realizar vários cursos.” Hoje, Gleide está livre da depressão e dos medicamentos que tomava. “As abelhas me curaram.”


Empreendedorismo Feminino na Meliponicultura
Mariana Castro, do Meliponário das Pedras, em Gonçalves, Minas Gerais, compartilha uma história semelhante. Seu interesse surgiu da paixão pela natureza e do desejo de transição de carreira para algo mais flexível, que permitisse conciliar trabalho e maternidade. “Percebi o papel fundamental das abelhas na biodiversidade e comecei a me aprofundar no assunto. Hoje, tenho mel de 10 espécies diferentes, pólen desidratado e outros produtos, além de estar investindo em uma Unidade de Beneficiamento de Produtos das Abelhas.”

O início foi desafiador, pois era preciso aprender sobre o manejo das abelhas, entender suas necessidades e o equilíbrio do ecossistema em que estavam inseridas. Mas logo Mariana percebeu o potencial dos produtos das abelhas nativas para a saúde humana. O mel, naturalmente rico em antioxidantes, apresenta sabores únicos e incríveis, enquanto a própolis, com suas propriedades antimicrobianas, se tornou um grande aliado do sistema imunológico e da saúde respiratória. O pólen, fonte de proteína e aminoácidos essenciais, fortalece o organismo e traz benefícios sem aditivos químicos.
A preocupação com a sustentabilidade sempre esteve presente no trabalho de Mariana Castro. Produzir mel e derivados exige respeito ao meio ambiente e às próprias abelhas, garantindo a biodiversidade local, escolhendo áreas livres de pesticidas e adotando práticas sanitárias adequadas. Cada detalhe conta para manter o equilíbrio e preservar a natureza.

Atualmente, Mariana está investindo na construção de uma Unidade de Beneficiamento de Produtos das Abelhas, certificada pelo SISBI MG, para aprimorar ainda mais as práticas de produção sustentável e contribuir para a profissionalização do setor. Hoje, a produção de mel de abelhas nativas ainda ocorre de forma bastante informal, com poucos méis certificados. A criação dessa unidade é um passo fundamental para garantir mais qualidade e reconhecimento ao setor.
A diversificação dos produtos tem sido um grande diferencial para muitas mulheres na meliponicultura. Thiandra Cristina, por exemplo, desenvolveu uma linha de cosméticos naturais utilizando insumos das abelhas, como mel, própolis, cera e pólen. “A criação dos produtos veio de um estudo aprofundado em cosmetologia natural e dos benefícios das propriedades das plantas nativas e óleos essenciais. Desenvolvi um bálsamo labial, uma pomada cicatrizante e sabonetes naturais, que se tornaram os campeões de venda.”


Essa inovação abre portas para um novo mercado dentro da meliponicultura. Mariana Castro reforça que essa atividade vai muito além da produção de colônias ou mel. “Hoje, há um crescimento na comercialização de insumos, cosméticos, produtos culinários e artesanato. Esse nicho de mercado tem um grande potencial, principalmente para mulheres que desejam empreender de forma sustentável.”


Sustentabilidade e Impacto Social
Além do impacto ambiental positivo da criação de abelhas nativas, a meliponicultura também tem um forte viés social. Mariana desenvolveu o projeto MELIPOARTE, que promove capacitação em meliponicultura e artesanato para comunidades rurais da Serra da Mantiqueira (MG). “A ideia é fortalecer o protagonismo econômico e social das mulheres, criando uma rede colaborativa entre meliponicultores e artesãos.”
O empoderamento feminino dentro desse setor é evidente. O aumento do número de mulheres envolvidas na meliponicultura mostra que esse é um caminho possível para quem busca autonomia e conexão com a natureza. “Muitas mulheres estão encontrando na meliponicultura um meio de gerar renda e, ao mesmo tempo, contribuir para a preservação ambiental”, destaca Mariana Castro.
Gleide reforça esse impacto positivo e dá um conselho para as mulheres que desejam começar: “Comece com uma colônia ou duas, sem medo, porque as abelhas só trazem benefícios para nós e para a natureza.” Ela ainda destaca como a atividade envolve toda a família: “Até minhas netas me ajudam a cuidar das abelhas, fazendo multiplicação, pintura de caixas e muitas outras coisas. É a melhor atividade para a vida, queria ter conhecido desde criança.”
Se você se interessou por essa atividade, Mariana, Thiandra e Gleide compartilham algumas dicas fundamentais:
Busque conhecimento: faça cursos, junte-se a uma associação de meliponicultura e participe de grupos para compartilhar experiências com outros meliponicultores.
Comece pequeno: obtenha suas primeiras colônias e aprenda sobre o manejo antes de considerar uma expansão.
Aposte na diversidade: além do mel, explore outras possibilidades de produtos naturais.
Conecte-se com outras mulheres: há uma forte rede de apoio crescendo no Brasil.
Explorar a diversidade de produtos também é um diferencial, pois além do mel, existem inúmeras possibilidades dentro da meliponicultura, como cosméticos e artesanato sustentável. Conectar-se com outras mulheres torna a jornada ainda mais enriquecedora, pois a troca de conhecimento fortalece a rede de apoio e impulsiona novos projetos. A meliponicultura não é apenas uma oportunidade econômica, mas também um caminho de transformação de vidas e preservação ambiental, mostrando que há um universo cheio de possibilidades esperando por todas que desejam fazer parte dele.