Desde criança, Adenilson Panzin nutre um olhar especial para a natureza. Nos anos 80, quando ainda era comum derrubar matas inteiras para abrir espaço à agricultura, ele já se sentia tocado pela importância de preservar. Uma professora de primário, vizinha de sua família, reforçava a ideia de que plantar árvores era essencial para trazer de volta a água. Foram essas palavras simples que germinaram a consciência ambiental em seu coração.
A história familiar também pesou nesse despertar. O avô de Adenilson, ao chegar da Itália, derrubou a mata da propriedade. O resultado foi a morte quase total de uma nascente. O solo assoreado e o gado que circulava livremente impediram que a vegetação se regenerasse. A água secou, colocando em risco famílias e plantações.
Diante da crise, Adenilson Panzin, que há 28 anos é do ramo de rochas, decidiu agir e demonstrou que, mesmo sendo de outra ramo, é possível exercer uma outra função cuidando do meio ambiente. Cercou a área, iniciou o reflorestamento e, pouco a pouco, viu a água renascer. Hoje, aquela mesma nascente abastece oito a dez famílias e irriga lavouras de café.



De Muda em Muda, Ele Espalha o Verde e a Esperança
O aprendizado se transformou em missão. Adenilson passou a doar mudas de árvores nativas para escolas e comunidades. Até hoje, são distribuídas entre 5 a 8 mil mudas da Mata Atlântica por ano, espalhando vida, sombra e alimento por diferentes cantos do Espírito Santo.


Entre suas paixões, está a multiplicação de frutas raras, como a gabiroba da serra capixaba, que depende das abelhas para a polinização. Ele sabe que sem elas não há frutos, e sem frutos não há preservação. O trabalho de Adenilson demonstra como a sobrevivência da flora e da fauna estão interligadas e proteger as abelhas nativas sem ferrão é também proteger a biodiversidade vegetal.



O Renascimento da Guabiroba Gigante
Mais recentemente, a Mata Atlântica capixaba voltou a surpreender com o reencontro de uma espécie considerada desaparecida desde a década de 1950: a Guabiroba Gigante (Campomanesia hirsuta).
Identificada após seis anos de pesquisas em uma expedição do Instituto Plantarum, graças ao olhar atento do observador Alberto Gomes Moreira, de Cachoeiro de Itapemirim, essa fruta impressiona pela grandiosidade.
Com até 8 centímetros de diâmetro, polpa adocicada e aromática que lembra o cambuci, a Guabiroba Gigante supera em tamanho todas as 25 espécies conhecidas desse gênero. Sua raridade e sabor a tornam promissora tanto para o consumo ao natural quanto para a produção de sucos e sorvetes.

Entretanto, o processo de preservação dessa espécie enfrentou um grande desafio: a escassez de polinizadores naturais, especialmente das abelhas nativas sem ferrão Uruçu-capixaba (Melipona capixaba), fundamentais para sua reprodução. Diante disso, Adenilson recorreu à ciência, contratou um Laboratório do seu Estado para realizar a clonagem da árvore, garantindo a multiplicação genética e o restabelecimento da Guabiroba Gigante em áreas de Mata Atlântica.
Altamente ameaçada de extinção, essa espécie precisa ser incentivada em plantios de áreas de preservação permanente e projetos de reflorestamento. Resistente a diferentes tipos de solo e adaptada a climas tropicais e subtropicais, pode atingir até quatro metros de altura. Embora ainda não existam cultivos comerciais, especialistas acreditam em seu potencial para enriquecer a biodiversidade e a economia sustentável.
Da Floresta à Alta Gastronomia
Os frutos nativos e o mel das abelhas sem ferrão, cultivados e preservados por guardiões como Adenilson Panzin, também vêm conquistando espaço no mundo da gastronomia.
A mestre sorveteira capixaba Gabriela Zorzal, de Domingos Martins, foi destaque na final brasileira do Gelato Festival World Masters, uma das competições mais prestigiadas do setor, realizada em São Paulo durante a Fipan, a maior feira de panificação e confeitaria da América Latina. Os frutos da Guabiroba Gigante foram fornecidos pelo Adenilson Panzin e levados pelo chef Ricardo Silva para ser utilizado na receita da mestre sorveteira Gabriela Zorzal.


Sua receita de sorbetto de Gabiroba Gigante, castanhas da Mata Atlântica, frutas vermelhas e mel de Uruçu-capixaba (Melipona capixaba) chamou a atenção do júri, que contou com nomes como o chef Claude Troisgros, a confeiteira Saiko Desu e a jornalista gastronômica Patrícia Ferraz. Apesar de não levar o título principal, Gabriela conquistou a Menção Honrosa do Júri Popular.

Essa conquista mostra como a biodiversidade capixaba pode ir além da preservação ambiental, inspirando também novas experiências gastronômicas e valorizando a riqueza de ingredientes da Mata Atlântica, fruto do trabalho de pessoas como Adenilson Panzin e parceiros como o chef Ricardo Silva, que ajudam a resgatar, cultivar e dar visibilidade a essas joias da natureza.
Nas mesas de doces dos eventos em que Adenilson participa, cerca de 90% das frutas utilizadas vêm de suas próprias árvores nativas da Mata Atlântica. O sabor da conservação também ganhou forma nas mãos de sua esposa, Maria José Fassarella Panzin, que transformou o que a natureza oferece em verdadeiras obras de arte gastronômicas.
Ela prepara geleias, sorvetes, mousses, cocadas e bombons com frutas colhidas na propriedade da família, uma forma doce de valorizar o que a floresta tem de melhor. O casal passou, então, a compartilhar esse conhecimento com as escolas públicas municipais, levando aos estudantes não apenas o sabor, mas também a consciência sobre a importância de preservar e conhecer as riquezas da Mata Atlântica.

A história de Adenilson é a prova de que um só indivíduo pode transformar uma realidade coletiva. Ao plantar, cuidar e multiplicar árvores, ele não apenas devolveu água a uma nascente, mas também esperança a famílias e futuro à floresta.

Sua trajetória inspira e reforça a mensagem de que o reflorestamento vai além de plantar árvores, é semear vida, conservar espécies raras como a Guabiroba Gigante, proteger abelhas e ainda gerar oportunidades para que a gastronomia brasileira celebre os sabores da nossa biodiversidade.










